Parabéns, Abradee, pela nova sede
Durante muitos anos, talvez uns 20 ou mais, a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) ocupou um espaço bastante simpático e amplo, de dois andares, no Edifício Liberty Mall, no centro comercial de Brasília. Este editor esteve lá muitas vezes, em entrevistas coletivas da associação.
Agora a área provavelmente ficou pequena e a Abradee, há cerca de um mês, inaugurou uma nova sede, no Edifício Park Cidade Corporate, um dos melhores (e mais caros) endereços comerciais da Capital Federal. Estilo AAA.
O condomínio é uma beleza. São três prédios de 12 andares cada, de frente para o Parque da Cidade. Garagem ampla, com 756 vagas no total. Várias comodidades são oferecidas aos ocupantes de salas no Park Cidade: heliponto, segurança predial, gerador, ar condicionado central, 14 elevadores. O condomínio conta com vários órgãos do Governo, bancos e restaurantes. Enfim, uma pequena cidade, por onde passam diariamente milhares de pessoas.
A nova sede da Abradee é um espetáculo e com certeza a instalação custou caro. E a manutenção não fica atrás. Projeto arquitetônico belíssimo, muitas salas, móveis de primeira qualidade. Enfim, uma sede à altura de uma grande organização empresarial como a Abradee.
Só tem um problema. No fundo, quem paga todo esse luxo são os pobres consumidores de energia elétrica. Você mesmo, que às vezes pede um dinheirinho emprestado para não ficar inadimplente com a sua concessionária de energia elétrica, você indiretamente dá a sua contribuição para sustentar toda a beleza da nova sede da Abradee.
Saiba que, ao pagar as contas de luz, seu dinheiro vai para as distribuidoras, que por sua vez pagam as mensalidades da sua associação. Neste caso da Abradee, o Imposto de Renda ainda compensa a distribuidora, pois o gasto com a Abradee entra como despesa no IR da pessoa jurídica que a sustenta, naturalmente.
O site “Paranoá Energia” não tem nada contra a Abradee (ou qualquer outra associação) e nem contra as distribuidoras. Entende que elas devam gastar o dinheiro delas da forma como quiserem. E o site não tem nada com isso.
Só que este é o paradoxo do setor elétrico brasileiro: o consumidor está cada vez mais ferrado e com dificuldade para pagar a conta mensal de energia elétrica (isso vale para ricos e pobres, pois tudo é proporcional). E as distribuidoras, que não têm os pés na realidade brasileira e gostam de ostentar, permitem que a sua associação tenha uma maravilha de sede, digna de primeiríssimo mundo. Lógico, tem alguém (o consumidor) financiando todo esse esplendor. A grana sai oficialmente do caixa delas, mas já entrou, antes, através das contas de luz dos consumidores.
É irregular? Não. Trata-se de uma entidade privada. Tudo absolutamente legal. Mas quando você soma uma associação aqui, um encargo ali, um tributo não sei onde, você acaba entendendo porque o consumidor paga caro por uma energia que, quando é gerada, é até relativamente barata. A conta, entretanto, vem salgada todos os meses.
Acorda, consumidor de energia elétrica. A mão peluda e macia está entrando no seu bolso e você nem percebe. É assim que o seu dinheirinho, tão difícil de ganhar, alimenta uma estrutura inútil, ineficiente e que só sabe gastar. Se houvesse mais racionalidade e compromisso com a eficiência, o setor elétrico brasileiro seria mais barato e mais fácil de ser bancado pelos consumidores.