Abraceel tem excelente meta
O jogo do faz-de-conta continua sendo jogado com muita intensidade no setor elétrico brasileiro. Só falta agregar as fadas, duendes e os bichinhos da floresta encantada.
Todo mundo sabe que o modelo atual de formação de preços com base em programas de computador é um mecanismo totalmente anacrônico, que já deu o que tinha que dar. Há muito tempo, já passou da hora de modernizar as relações de compra e venda de energia elétrica no Brasil.
Mas todo mundo tem medo de jogar a pá de cal nesse modelo de programas computadorizados, pois teme um futuro em que os preços seriam arbitrados livremente entre compradores e vendedores de energia elétrica. Os mais antigos no mercado elétrico, os pioneiros, possivelmente não teriam dificuldades para sair por aí comprando e vendendo energia elétrica. Eles sabem fazer contas.
Entretanto, os agentes mais novos, que nasceram nas condições de operação do modelo atual e não conhecem outra realidade, teriam enorme dificuldade para operar. É quase certo que ficariam travados nas suas atividades de rotina. Daí, o medo em relação ao desconhecido. É a turma que prefere um bom algoritmo em vez do mundo simplificado das contas de somar, diminuir, multiplicar e dividir.
Afinal, o cara que fez doutorado em Itajubá defendendo tese sobre o modelo atual não vai querer apenas fazer as operações básicas. Ao contrário, precisa complicar um pouco, precisa demonstrar conhecimento. Tudo bem. Este editor não tem nada contra o conhecimento.
Os comercializadores, mais do que ninguém, sabem disso e este editor não está inventando a roda. Eles não gostam que isso seja dito ou escrito, mas o fato é que, ao longo do tempo, os comercializadores se acomodaram. Então, por puro comodismo, preferem a falsa sensação de segurança oferecida pelos preços computadorizados.
O mais incrível nisso tudo é que a associação dos comercializadores, a Abraceel, que deveria liderar uma campanha incessante contra o modelo atual de formação de preços, está fortemente aliada aos defensores do modelo atual, principalmente consultores de renome, e anuncia a contratação de uma dessas grandes empresas do mercado para sugerir aperfeiçoamentos no programa Dessem. E tome matemática sofisticada para não dizer absolutamente nada.
Na roça, lá no interior de Minas, diz-se para coisas desse tipo que é mais ou menos como colocar o bode tomando conta da horta. Em qualquer lugar, isto também significa jogar dinheiro pela janela, mas o problema é da Abraceel, que provavelmente está com grana sobrando em caixa e faz o que quiser com ele. Inclusive contratar consultores que só trabalham a preço de muita grana, para levar a lugar nenhum. Ou melhor, levar ao passado.
O mais interessante é que, no seu último Planejamento Estratégico, a Abraceel elegeu como a sua principal meta em 2025 a questão da formação dos preços. Na seção “É o que se diz” deste site há uma nota a respeito do assunto. Faltou apenas dizer que é a principal bandeira dos agentes de comercialização para o próximo ano, desde que fique tudo do jeito que está.
Pensando bem, no mundo da Abraceel não deixa de ser uma excelente meta.