O setor elétrico precisa mudar
Há poucos dias, este site deu uma pancadinha de leve no conjunto das associações empresariais do setor elétrico, sem especificar nomes. Coisa leve, só para não perder o costume.
Só que tem gente que gosta de passar o tal do recibo. Embora o texto (uma notinha, apenas) não tivesse citado o nome de alguma associação ou pessoa, teve um cidadão que se sentiu ofendido e ligou para este editor para dizer um monte de bobagens.
O editor, que é um idoso educado, ouviu atentamente. Deixou o incomodado reclamar e depois agradeceu. O editor já infartou e não pode se estressar. Então, aprendeu a administrar esses idiotas que levam tudo para o campo pessoal.
Não é novidade o que o editor do site “Paranoá Energia” pensa a respeito do sistema de representação institucional do setor elétrico baseado em associações empresariais. Elas já tiveram alguma importância, mas já deram o que tinha que dar. Hoje, agregam muito pouco. De um modo geral, custam caro para as empresas que representam e entregam pouco resultado. É lógico que existem associações e associações, não é uma opinião linear.
Esse modelo obviamente precisa ser repensado. Mas quem tem que dizer o que vai ser não será este idoso editor, mas, sim, as empresas que são as donas das associações.
Para o leitor ter uma ideia, hoje, filiadas ao Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase) existem 34 associações que de alguma forma representam algo no SEB. Não é brincadeira: 34 associações.
O editor conhece esse ambiente um pouco, pois já trabalhou numa dessas 34 durante mais de 10 anos. Mas, como já saiu desse negócio em 2015 (há exatamente 10 anos), pode, obviamente, escrever o que quiser sobre as associações.
O tal cidadão que ficou indignado com o “Paranoá Energia” e que reclamou com o editor quase teve uma apoplexia quando disse, numa explosão de raiva (o editor não correu riscos, pois a conversa foi telefônica), que o editor cuspia no prato em que comeu durante muito tempo. Não é bem assim, não. O editor é jornalista. Deixou de trabalhar numa associação. Vai fazer o que na vida para ganhar um dinheirinho honestamente? Vai ser jornalista novamente, é evidente. Além disso, já se passou uma eternidade.
Se esse palhaço quiser oferecer um emprego na associação dele, com o salário dele, para o editor, ele fecha imediatamente o site e vai trabalhar na tal associação. É assim que o mundo funciona. Enfim, são idiotices que um jornalista precisa ouvir quase todos os dias. Gente que se acha.
Num rasgo de generosidade, o editor examinou calmamente essas 34 associações que estão no Fase e lamentavelmente concluiu que apenas nove oferecem algum trabalho a respeito do qual os profissionais podem se dar por satisfeitos. O resto está claramente enganando. Por várias razões, mas estão enganando.
Há poucos dias, um executivo preparado que já passou por vários lugares, inclusive o governo, assumiu a presidência de uma associação. Foi motivo de chacota. Esse cidadão passou anos e anos hostilizando o mesmo segmento que ele agora representa. Agora está na associação, reclamando de várias decisões governamentais ou semi-governamentais que impactam o segmento. Vai reclamar com quem? Com ele mesmo, pois foi ele que criou uma série de restrições.
Numa outra associação, tem uma senhora muito bem intencionada, mas que se julga ainda no governo. Lógico, ela passou a vida inteira no governo e tá difícil perder o cacoete. Hoje, é executiva do setor privado, mas a cabeça ainda pensa como governo. Por que ela assumiu a tal associação? Quem vai explicar são os executivos que dirigem as empresas que integram essa organização.
Então, esse mundo de associações empresariais do setor elétrico é assim mesmo. Tem muita gente boa, muita gente preparada, que ganha o seu dinheiro honestamente, mas também tem muito picareta, que ganha uma bela grana para não fazer absolutamente nada.
Também existem aqueles que se destacam pela falta de caráter, no mundo das associações. Tem cada peça rara, que, como se diz no interior de Minas, Deus Pai. Mas isso não é privilégio das associações. Esses oportunistas existem em todos os lugares, inclusive na imprensa. O editor tem 50 anos de jornalismo e já viu cada peça impressionantemente incompetente, mas que sabia usar muito bem a intriga e o puxa-saquismo.
Enfim, o editor deu uma enrolada aqui para dizer apenas isto: os executivos que são donos ou mandam nas empresas já deveriam ter percebido, há muito tempo, que o modelo atual está falido. Que precisa mudar. Como será feito, o que vai acontecer com as atuais associações, bem, não é este editor que dirá.
Tem muito chão pela frente e o SEB, que gosta tanto de organizar reuniões, poderia rediscutir a questão. Seria uma bela oxigenação de um setor que às vezes parece meio perdido no tempo e no espaço, embora tenha boas características. Provavelmente, é uma questão de lideranças.