Silveira está aperfeiçoando as suas entrevistas. Já consegue falar 30 minutos sem dizer nada.
Este editor do site “Paranoá Energia” jura que tem simpatia pelo ministro de Minas e Energia e que até faz um esforço para tentar passar aos leitores uma imagem melhor de Sua Excelência.
Mas é difícil. O próprio Silveira não ajuda. Além de ser um ministro extremamente paciente (para não dizer outra coisa) com o péssimo serviço de distribuição de energia elétrica praticado pela concessionária Enel, em São Paulo, Silveira faz promessas ao setor elétrico e não as cumpre. Um exemplo é o novo modelo comercial do SEB. Ele também levou 1 ano e 7 meses para entender que o “curtailment” deveria ser encarado como uma prioridade pelo MME. E quando finalmente entendeu, criou um “GT Chapa Branca”. Digamos que Silveira é gente boa, mas, como ministro, está ligeiramente equivocado.
Nesta segunda-feira, dia 17 de março, após anunciar a viabilidade técnica da adoção de 30% de etanol na gasolina, o ministro deu uma entrevista coletiva à imprensa, no MME. Falou durante exatamente 29 minutos e 19 segundos. É muito tempo em termos jornalísticos. Muita coisa boa poderia ter saído daí.
Mas não saiu nada. Embora seja ministro de Minas e Energia desde o início da atual gestão do presidente Lula, Silveira até hoje se mostra um deslumbrado com jornalistas, microfones e emissoras de TV deixando-o no foco.
A entrevista não poderia dar outra coisa: meia-hora de blá-blá-blá da melhor qualidade. É possível que tenha rendido uma ou outra frase sem importância para algum noticiário que ia ao ar à meia-noite. Mas tecnicamente, com todo o respeito a Sua Excelência e aos jornalistas que participaram da coletiva, a entrevista inteira, mesmo espremendo, não rendeu nada. Repetitiva, vazia. Enfim, a mais autêntica anti-entrevista. Um desperdício de tempo do ministro e dos jornalistas.
Isso é uma lástima, pois jornalistas não estavam ali para passar o tempo ou para testemunhar o ministro orgulhoso da sua performance como autoridade. Jornalistas vivem de informação. Estavam ali em busca de notícia, enquanto Sua Excelência estava se deliciando com suas próprias palavras sem conteúdo.
A situação vivida pelo ministro Alexandre Silveira é mais do que comum em Brasília. É possível que o fenômeno hoje talvez possa estar ocorrendo em outros ministérios, pois há nulidades espalhadas por outras Pastas. A política em Brasília normalmente carece de inteligência, abrindo espaços para políticos que apenas sabem enganar muito bem. Não enganar no sentido da ilegalidade, da ladroagem. Mas no sentido da mediocridade.
Pessoas sem grande projeção de repente são alçadas, devido às circunstâncias da política, para funções de alto nível, sem que estejam preparadas. Por exemplo: um deputado do Baixo Clero vira ministro não sei de que. Saia da frente, pois o deslumbramento come solto.
Ou então alguém que perdeu o mandato vira ministro, pois significa a chance de retornar ao Congresso. Aí não tem jeito: essas pessoas ficam contaminadas pelo deslumbramento e passam a acreditar que são gênios da comunicação. Seus assessores de Imprensa normalmente sofrem.
Este editor já viu esse filme passar inúmeras vezes na Esplanada dos Ministérios, em vários momentos de governos possuidores de ideologias diferentes. Está acontecendo agora com o ministro Silveira, que aparentemente é uma boa pessoa, mas que não está à altura do cargo e poderia ter sido substituído por alguém mais comprometido com a área de energia.
Infelizmente não há muito o que fazer, pois o próprio presidente Lula afirmou que Silveira é um excelente ministro. Se o técnico diz que o jogador perna de pau é ótimo jogador, paciência. Quem vai contestar o técnico e dizer que não? É recomendável apenas que ninguém saia por aí reclamando, depois que o juiz apitar o final da partida.